Pelo menos nove mulheres
formalizaram denúncia na Delegacia da Mulher de Teresina e na Delegacia Geral
da Polícia Civil do Piauí acusando o médico Felizardo Batista de violação
sexual supostamente praticada durante exames ginecológicos e obstétricos.
Os dois últimos registros na polícia ocorreram nesta sexta-feira (17).
![]() |
Imagem meramente ilustrativa. |
Segundo a polícia, as vítimas relataram que os supostos abusos ocorreram em duas clínicas particulares da capital piauiense, das quais o ginecologista e obstetra é sócio e faz parte do corpo clínico. Batista nega as acusações, continua trabalhando nos dois locais e sua defesa chama as denúncias de "inconsistentes".
"Nesta sexta-feira (17),
atendemos mais outras duas mulheres que relataram supostos atos de violação
sexual cometidos durante exames feitos pelo médico em questão. Agora já são
nove relatos semelhantes dados por pacientes que se conhecem e nunca
tiveram contato com outras mulheres que também denunciaram a conduta do
médico", disse o delegado-geral do Piauí, Ridel Batista dos Santos.
Carícias e exames doloridos
![]() |
Imagem meramente ilustrativa. |
Em entrevista duas das supostas
vítimas do médico sob a condição de mantê-las em anonimato. As mulheres
relataram à reportagem que se sentiram abusadas devido à forma como foram
examinadas por Batista, mas por vergonha ou medo, não procuraram logo a
polícia.
Mariana*, de 29 anos, estava com
32 semanas de gravidez quando começou a sentir fortes dores e procurou o
atendimento de urgência na Clínica e Maternidade Santa Fé. O médico plantonista
era Felizardo Batista e ela não o conhecia havia feito pré-natal com uma médica.
"Cheguei na Santa Fé porque
estava sentindo muita dor. Ele pediu para entrar em outra sala para ser
avaliada, era o exame de toque. Eu nunca tinha feito aquele exame antes.
Quando ele fez, ele demorou e forçou muito, ficou doendo o canal vaginal.
Durante o exame, ele ficou dizendo para eu relaxar e quando terminou, ele
passou a mão no meu rosto e sorriu", contou a jovem, que precisou ficar
internada.
"Achei muito estranha essa
atitude do médico, mas meu esposo pensou o mesmo que eu na hora, que podia ser
uma forma de 'apoiar' porque eu ia ficar internada. Fiquei sentindo incômodo no
canal vaginal devido ao exame por quase dois dias. Depois, fiz três exames de
toque com minha médica e percebi que realmente não dói, é um exame rápido,
diferente de como ele fez comigo na maternidade", relatou a suposta vítima
na quarta-feira (15).
Nesta sexta(17), a reportagem conversou
com uma segunda pessoa que registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia da
Mulher denunciando a conduta do médico depois que viu que outras mulheres
procuraram a polícia. Clara* contou que não tem plano de saúde e pela
dificuldade de conseguir o exame ginecológico pelo SUS (Sistema Único de Saúde)
procurou a Clínica Batista, indicada por ter preços populares.
"Quando vi a cara dele [no
noticiário], com o nome, lembrei logo daquela situação que passei e, por
vergonha, por medo, na época, não fui à polícia, mas agora está tudo aí. Nunca
mais voltei naquele médico", contou.
Ela relatou que durante exame
ginecológico, o médico teria acariciado as pernas dela, tocado em sua vagina de
forma diferente e ainda feito perguntas sobre sua vida sexual que não eram
relacionadas ao exame realizado naquele momento.
"Quando deitei na maca, ele
pediu para eu colocar as pernas para cima, no suporte, e começou a alisar
minhas pernas dizendo: 'relaxe, relaxe!', isso sem luvas. Eu me contraindo e
ele dizendo que eu relaxasse, abrindo minhas pernas e pegando na minha vagina.
Fiquei morrendo de medo porque estávamos sozinhos na sala, não tinha enfermeira
com ele. Depois, eu muito constrangida, sentei na cadeira para ver com ele a
data da entrega do exame e ele ficou me fazendo perguntas sobre quando eu perdi
a virgindade, se foi bom, se sangrou, se doeu", disse a mulher.
Um médico ginecologista e
obstetra consultado pelo UOL nesta sexta-feira, que atua há pelo menos 25 anos
em Maceió e tem seu nome aqui preservado por questões éticas, disse que para
evitar mal entendidos durante exames ginecológicos, por serem realizados em
áreas delicadas, é recomendada a presença de uma enfermeira na sala, inclusive
para auxiliar na preparação da paciente.
Ele explicou que o exame do toque,
indicado no final de gestações e no trabalho de parto, não deve ser demorado e
a paciente não sente dor durante e nem depois. O exame consiste em observar
como se encontra o colo do útero e avaliar a dilatação para decidir pelo parto
normal ou cesárea. O médico, com luvas e usando lubrificante, introduz dois
dedos no canal vaginal até chegar ao colo e examinar se há abertura ou não
do local. O exame não dura mais que um minuto.
Relatos semelhantes
As primeiras denúncias contra o médico Felizardo Batista
começaram a ser investigadas pela Delegacia da Mulher em Teresina, onde foi
registrado o primeiro Boletim de Ocorrência em janeiro. Porém, neste mês, a
Delegacia Geral de Polícia decidiu designar uma delegada especial e mudou o
local em que as oitivas estão ocorrendo. Os trabalhos iniciados por Vilma
Alves foram repassados para a delegada especial Carla Brizzi.
"O caso é complexo e requer atenção especial às vítimas. A
Delegacia da Mulher tem outras demandas e, no início, observamos que as vítimas
estavam muito expostas. A estrutura da Delegacia da Mulher não facilitava a
oitiva da vítima preservada, por isso, mudamos para a Delegacia Geral",
explicou o delegado-geral da Polícia Civil do Piauí, Ridel Batista dos Santos.
A delegada da Mulher, Carla Brizzi, afirmou que já colheu
depoimento de 20 pessoas, dentre vítimas, o acusado e testemunhas. O inquérito
ainda não foi concluído devido à quantidade de denúncias e detalhes a serem
apurados. A polícia solicitou à Justiça dilação de prazo para mais 30 dias para
conclusão das investigações.
"O inquérito foi aberto com base nos três primeiros
Boletins de Ocorrência registrados por mulheres contra o acusado. As demais
vítimas fizeram Termo de Declaração, que é uma declaração inicial à polícia,
mas agora, todas já registraram B.O.s, com depoimentos colhidos de supostas
vítimas e testemunhas", explica a delegada, destacando que não pode
repassar detalhes das acusações porque o caso está em segredo de Justiça.
Segundo a delegada, o caso se insere no artigo 215 do Código
Penal, que trata na sua redação sobre o crime de violação sexual: "ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude
ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da
vítima". A pena, em caso de condenação para quem comete este tipo de
crime, varia entre dois a seis anos de prisão.
Outro lado
O advogado do médico Felizardo Batista, Palha Dias, informou que
não vai comentar sobre o assunto porque "ainda não existe acusação
formalizada". Dias disse que acompanhou o cliente durante o depoimento
dado à polícia e que as denúncias são "inconsistentes”.
O assessor jurídico do CRM-PI (Conselho Regional de Medicina),
Ricardo Abdala Cury, informou que o órgão não vai se pronunciar sobre as
investigações policiais sobre a conduta de Felizardo Batista, "pois o caso
corre em segredo de Justiça". Cury se recusou a informar se existem
denúncias contra o médico feitas por pacientes no CRM-PI, mas afirmou que o
conselho apurará toda e qualquer denúncia que chegue ao CRM-PI.
A Clínica e Maternidade Santa Fé informou que não recebeu
qualquer denúncia ou reclamação de atendimentos sobre o médico Felizardo
Batista e que ele continuará atuando normalmente no corpo clínico. "O
profissional de reputação ilibada em quase 30 anos que participa do Corpo
Clínico da maternidade, sendo, atualmente, um dos profissionais mais
requisitados pelas pacientes”.
A Clínica Batista informou, nesta sexta-feira (17) que Batista
continua trabalhando normalmente no local. A clínica afirmou que nunca recebeu
denúncia de pacientes sobre a conduta do médico.
* Foram usados nomes fictícios a pedido das entrevistadas
FONTE: UOL
FONTE: UOL
0 Comentários